Período, sentença ou híbridos? Aplicações da teoria das funções formais no estudo da forma do choro

Autores

  • Gabriel Ferrão Moreira Universidade Federal da Integração Latino-Americana
  • Gabriel H. Bianco Navia Universidade Federal da Integração Latino-Americana

DOI:

https://doi.org/10.52930/mt.v4i2.118

Resumo

Neste artigo, investigamos as maneiras pelas quais o hibridismo temático se manifesta no choro em dois níveis distintos, nas unidades de oito e dezesseis compassos, e demonstramos como este exercício pode contribuir para a compreensão de casos ambíguos em que o conteúdo temático parece ter pouca relação com os dois tipos formais geralmente tomados como modelo na literatura, o período e a sentença. Adotamos como referencial teórico a Teoria das Funções Formais de William Caplin. A escolha desta ferramenta advém da hipótese assumida, ao início da pesquisa, de que a análise de músicas populares derivadas da música de salão europeia de fins do século XIX seria adequadamente conduzida por uma ferramenta que lida com o repertório que o antecede, dentro da mesma tradição (o alto período clássico, nomeadamente, Haydn, Mozart e Beethoven). Submetemos peças centrais do repertório chorão (em especial de Pixinguinha) à análise e reconhecemos, ao longo do trabalho, a relevância da ferramenta de Caplin e também suas limitações. Identificamos, por exemplo, três tipos híbridos compostos, estruturas não discutidas por Caplin por não serem recorrentes no repertório Clássico: Antecedente Composto + Continuação (8), Antecedente Composto + Consequente Composto => Continuação, e Apresentação Composta + Consequente Composto. Como resultado dessa pesquisa, pudemos observar que as designações tradicionais de período e sentença não são suficientemente precisas para lidar com todo o repertório do choro, sendo necessário admitir a presença de tipos híbridos.

Referências

Almada, Carlos. 2006. A estrutura do choro: com aplicações na improvisação e no arranjo. Rio de Janeiro: Da Fonseca.

BaileyShea, Matthew. 2004. “Beyond the Beethoven model: sentence types and limits”, Current Musicology, no. 77, p. 5–33.

Barreto, Almir Cortes. 2006. O estilo interpretativo de Jacob do Bandolim. Dissertação (Mestrado) – Instituto de Artes, UNICAMP, Campinas.

___________. 2012. Improvisando em música popular: um estudo sobre o choro, o frevo e o baião e sua relação com a "música instrumental" brasileira. Tese (Doutorado) – Instituto de Artes, UNICAMP, Campinas.

Barros, Cassiano de Almeida. 2011. A teoria fraseológico-musical de H.C. Koch (1749–1816). Tese (Doutorado) - Instituto de Artes, UNICAMP, Campinas.

Caplin, William. 1998. Classical form: a theory of formal functions for the instrumental music of Haydn, Mozart, and Beethoven. New York: Oxford University Press.

___________. 2004. “Classical Cadence: Conceptions and Misconceptions”, Journal of the American Musicologial Society, vol. 57 no. 1, p. 51–118.

___________. 2013. Analyzing classical form: an approach for the classroom. New York: Oxford University Press.

___________. 2010. What are formal functions? In: BERGE, Pieter, ed. Musical Form, Forms, and Formenlehre: Three Methodological Reflections, p. 21–40.

Carrasqueira, Maria José, coord. 1997. O melhor de Pixinguinha. São Paulo: Irmãos Vitale.

Chediak, Almir. 2007. Choro. V. 1. Organizado por Mário Sève, Rogério Souza e Dininho Rio de Janeiro: Lumiar Editora.

___________. 2011. Choro. V. 2. Organizado por Mário Sève, Rogério Souza e Dininho. São Paulo: Irmãos Vitale.

Dahlhaus, Carl. 1978. “Satz und Periode: Zur Theorie der musikalischen Syntax", Zeitschrift fur Musiktheorie, v. 9, p. 16–26.

Freitas, Sérgio Paulo Ribeiro de. 2010. Que acorde ponho aqui? harmonia, práticas teóricas e o estudo de planos tonais em música popular. Tese (Doutorado) - Instituto de Artes, UNICAMP, Campinas.

Galand, Joel. 1999. “Formenlehre” Revived: [review article of] Classical Form: A Theory of Formal Functions for the Instrumental Music of Haydn, Mozart, and Beethoven by William Caplin”, Intégral, v. 13, p. 143–200.

Hepokoski, James; Darcy, Warren. 2006. Elements of sonata theory: norms, types, and deformations in the late-eighteenth-century sonata. Oxford: Oxford University Press.

Kühn, Clemens. 2003. Tratado de la Forma Musical. Tradução de Luis Romano. Barcelona: Idea Books, S.A.

Martinez, Alejandro. 2012. “El análisis formal de música popular: la oración y sus sub-tipos en ejemplos seleccionados del tango, folklore y rock argentinos”. Jornada de la Música y la Musicología, Buenos Aires. Disponível em http://bibliotecadigital.uca.edu.ar/repositorio/ponencias/analisis-formal-musica-popular-martinez.pdf

_______. 2016. Zamba y Formenlehre: un abordaje formal de la zamba en diálogo con algunas corrientes recientes de la teoría musical. Revista Argentina de Musicología 17, p. 83–112.

Moortele, Steven Vande; Pedneault-Deslauriers, Julie; Martin, Nathan John, eds. 2015. Formal Functions in Perspective: Essays on Musical Form from Haydn to Adorno. New York: University of Rochester Press.

Navia, Gabriel Henrique Bianco; Moreira, Gabriel Ferrão. 2020. Incorporating Latin-American Popular Music in the Study of Musical Form. In: VANHANDEL, Leigh. The Routledge Companion to Music Theory Pedagogy. Abingdon: Routledge, p. 295–300.

Palopoli, Cibele Odete. 2018. Violão velho, Choro novo: processos composicionais de Zé Barbeiro. 2018. Tese (Doutorado em Musicologia) – Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo.

Ratz, Erwin. 1973. Einführung in die musikalische Formenlehre: Über Formprizipien in den Inventionen und Fugen J. S. Bachs und ihre Bedeutung für die Kompositionstechnik Beethovens. 3a ed. Vienna: Universal.

Rezende, Gabriel Sampaio Souza Lima. 2014. O problema da tradição na trajetória de Jacob do Bandolim: comentários à história oficial do choro. Tese (Doutorado) – Instituto de Artes, UNICAMP, Campinas.

Schoenberg, Arnold. 1996. Fundamentals da Composição Musical. ed. Gerald Strang and Leonard Stein. Tradução de Eduardo Seincman. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo.

Schmalfeldt, Janet. 2011. In the process of becoming: analytic and philosophical perspectives on form in early nineteenth-century music. New York: Oxford University Press.

Tiné, Paulo José de Siqueira. 2001. Três Compositores da Música Popular do Brasil: Pixinguinha, Garoto e Tom Jobim. Uma Análise Comparativa que Abrange o Período do Choro a Bossa-Nova. Dissertação (Mestrado) – Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo.

Downloads

Publicado

2020-02-18

Edição

Seção

Artigos