O comentário composicional enquanto meio de desvelar funcionalidades harmônicas latentes

exposição do método e comentário sobre o Op. 19/6 de Schoenberg

Autores

  • Francisco Zmekhol Nascimento de Oliveira Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)
  • Max Packer Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS)

DOI:

https://doi.org/10.52930/mt.v8i1.254

Resumo

Desde o abandono da tonalidade funcional entre 1908 e 1909, por parte de Schoenberg, Scriabin, Ives e outros, a questão sobre se a tonalidade não continuaria a participar subjacentemente de suas obras tem sido colocada por diversos autores. Frente a essa antiga discussão, o presente artigo objetiva apresentar um procedimento analítico que entendemos ser particularmente adequado ao reconhecimento e à evidenciação, em obras tidas como pós-tonais, de relações funcionais locais e de larga escala que se deem a posteriori. Metodologicamente fundado (1) sobre um experimento do Harmonielehre de Schoenberg (1922) e (2) sobre a prática beriana do comentário composicional (Berio 2006), tal procedimento consiste, basicamente, em acrescentar à obra analisada (de resto intacta) uma linha instrumental que opere, em cada formação harmônica dissonante, preparações e resoluções que demonstrem como tal formação poderia ter acontecido ainda no seio de uma tonalidade pré-1908. Para além de que (1) relações funcionais se possam estabelecer a posteriori, assumimos ainda por pressupostos teóricos: (2) que funcionalidades a posteriori tendam a ser difusas (Oliveira 2018); e (3) que a emancipação da dissonância se trate de um processo histórico ocorrido sobretudo no seio da tonalidade funcional, motivo pelo qual preparações e resoluções de formações dissonantes (i. e., a reversão de um processo emancipatório) seriam eficazes em remetê-las a estágios anteriores da tonalidade. Após expormos o funcionamento de nosso procedimento nos compassos iniciais do Op. 11/1 (1909) de Schoenberg, realizamos uma análise minuciosa do Op. 19/6 (1911), por meio da qual demonstramos como a obra comporta, virtual e difusamente, um plano tonal surpreendentemente convencional.

Biografia do Autor

Francisco Zmekhol Nascimento de Oliveira, Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)

Francisco Zmekhol Nascimento de Oliveira é, desde 2022, professor adjunto da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), onde leciona Composição, Análise Musical e Percepção. Tendo se graduado em Composição Musical pela UNICAMP em 2011, obteve seu mestrado em Processos Criativos em Música pela UNICAMP (2013) e seu doutorado em Processos de Criação Musical pela USP (2018), tendo sido orientado em ambas as pesquisas por Prof. Dr. Silvio Ferraz. Tanto como compositor, como enquanto pesquisador, seu principal interesse reside nas interações entre tonalidade funcional e abordagens pós-tonais à composição musical. Foi professor da Universidade Federal de Rondônia entre 2014 e 2022. Realizou estágio de pesquisa em 2015 na Fundação Paul Sacher (Basel, Suíça) sobre os rascunhos de Brian Ferneyhough.

Max Packer, Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS)

Max Packer é, desde 2019, professor adjunto da Faculdade de Artes, Letras e Comunicação da UFMS, onde ministra as disciplinas de Harmonia, Análise e Clarineta. Doutor em Artes (Processos de Criação Musical) pela Universidade de São Paulo (2018), Mestre em Música (Processos Criativos) pela Universidade Estadual de Campinas (2013) e Bacharel em Composição Musical pela Faculdade Santa Marcelina (2011). Suas pesquisas de Iniciação Científica (2009-11), Mestrado (2012-13) e Doutorado (2014-18) foram realizadas sob orientação do Prof. Dr. Silvio Ferraz, com bolsa FAPESP. Realizou estágios de pesquisa na Fundação Paul Sacher Stiftung (Basel, Suíça) em 2015 e na Monash University em Melbourne, Austrália, entre 2016 e 2017, sob supervisão do compositor Thomas Reiner, com bolsa FAPESP.

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Publicado

2023-08-04

Edição

Seção

Artigos